Depois de aprendermos tudo sobre o ritmo de histórias, livros, filmes, etc., agora vamos aprender a planejar todas as cenas do nosso livro antes mesmo de escrever! É isso mesmo! Dessa forma, quando você sentar diante do computador, já saberá exatamente o que você terá que escrever, página por página. Chega de enrolar! Escreva seu livro agora!
Depois do vídeo imenso da semana passada, você ainda vai encher o saco? Vou! Porque agora vamos separar cada “cena” ou “parte” dentro das etapas que aprendemos. Como assim?
Nós vamos criar um quadro. Esse quadro é utilizado por todas as pessoas do mundo para criar suas histórias e se você não estiver fazendo isso, você está fazendo errado. Certo? Pode ser um quadro físico – um quadro negro ou branco, um quadro de comprensado ou magnético. E também pode ser um quadro virtual, no seu computador ou celular. Mas você precisa ser capaz de “colar” suas fichas – porque você vai escrever essas “cenas” da sua história em pequenas fichas.
Coloque seu quadro na parede, ou baixe um aplicativo de notas – há muitos aplicativos ou programas feitos exatamente para isso, basta procurar “story board”, “script board” e por aí vai. Crie fichas com informações das “cenas”, que você pode modificar e mover de lá para cá enquanto estrutura sua história. Vai ser através desse Quadro que você será capaz de “ver” a sua história antes de escrevê-la. Assim, você poderá testar cada parte da história, mudar alguma coisa, encontrar o ritmo certo para fazer a história fluir e, mais importante: ver se as suas cenas funcionam ou não. Porque as vezes a gente pensa em cenas maravilhosas e, no final, pode muito bem descobrir que elas não se encaixam, ou que elas são desnecessárias para fazer sua história fluir, e aí temos que ser humildes e ter a coragem de jogá-las fora. Isso também ajuda porque não há a pressão de começar a preencher páginas e páginas de texto – desespero dos escritores, iniciantes ou não – você precisa apenas escrever alguns cartõezinhos. Superfácil. Pra ficar ainda mais fácil, eu vou colocar para download um arquivo com o Quadro já organizado, pronto para você preencher. Maravilha, né?
Download de modelo de Beat Sheet (Folha de Ritmo em português)
Vamos começar. Você vai dividir o seu quadro em 4 linhas iguais.
Repare que o final de cada linha do seu quadro é um limite da sua história: quebra de ato, metade, quebra de ato, cena final. E se você pensar que, na verdade, cada limite desses faz a história andar para um lado diferente, fica mais fácil ainda entender isso a partir dessa divisão.
Dentro dessas 4 linhas, você poderá distribuir 40 fichas. 40 cartões de “cenas” e “partes” da sua história. Pode ter mais? Pode. Pode ter menos? Pode. Mas se tiver mais, você provavelmente está colocando “cenas” desnecessárias. E se tiver menos (absolutamente improvável), você provavelmente está deixando coisas importantes de lado. Suas fichas serão divididas em:
Fácil de novo, né? Pois é. Agora vamos entender essas divisões. Algumas dessas coisas são mais para roteiros mesmo, mas acho bom que você estruture bem sua história do jeito que está aqui. Até porque, depois que seu livro fizer sucesso, você pode já começar a escrever, você mesmo, o roteiro para sua história, né? Então vamos entender os dois primeiros primeiro.
Aqui você vai colocar se a cena se passa no INTERIOR ou no EXTERIOR. Em seguida, você descreve que lugar é este. Por exemplo: “INT: Quarto do Ulisses.” É a minha primeira cena.
Aqui você vai resumir, em uma frase curta e simples, o que acontece. Por exemplo: “Ulisses convida Isaque para uma viagem”.
Agora vamos ver os outros dois pontos, igualmente importantes.
Toda cena DEVE ter uma mudança emocional. Pense em cada parte da sua história como um curta-metragem. Cada parte deve ter um começo, um meio e um fim. E cada parte deve acontecer alguma coisa que muda o tom emocional da sua história maior, seja de negativo para positivo (-/+) ou de positivo para negativo (+/-). “Por exemplo: (-/+) Isaque começa desanimado, e acaba animado com a ideia.” Se você não consegue definir a mudança emocional, sua cena ainda não está boa. Alguma coisa precisa acontecer! Se não, sua cena não tem sentido, e precisa sair.
Conflito é, basicamente, a ideia de que toda cena tem um objetivo e tem um obstáculo para alcança-lo. Pode ser alguém impedindo o personagem principal de passar por alguma coisa, ou apenas alguém querendo ir ao banheiro e não encontrando um vazio. Por exemplo: “(><) Isaque não quer ir, Ulisses enche o saco pra ele ir.” Tudo o que você precisa é um conflito, mas ele tem que estar lá. Se não, de novo, sua cena parece vazia e, assim, desnecessária.
Para o seu público, um capítulo em que não há conflitos e que todo mundo termina do jeito que começou, soa como desinteressante. É aquela questão do primitivo, do fundamental: todos gostamos de conflitos e de mudanças emocionais.
Geralmente, quando você começa a preencher seus cartões, você descobre que tudo aquilo que tinha na cabeça cabe em poucos cartões. E aí vem a luta para preencher os demais. Se você seguir as lições anteriores e já tem sua história estruturada em etapas, você já sabe como ela anda. Uma boa ideia então é começar com os seguintes cartões:
É muito importante lembrar que os cartões são passos da sua história. Então, não adianta fazer um cartão dizendo “o herói gosta de tocar guitarra”. Você pode ter um cartão de “Apresentando o herói”, uma cena na qual descobrimos tudo sobre ele. Mas a cena é uma cena, não um fato ou dado sobre o personagem, ok? Isso não te impede de fazer um milhão de cartões, depois que você começar, mas é importante depois analisar, remover e juntar para chegar nos 40 cartões que nós temos.
Da mesma forma, você pode escrever uma perseguição, que passa por lugares internos e externos, que durará várias páginas. Mas a perseguição é um cartão só, é um passo só para sua história. Uma grande vantagem de usar o Quadro é reparar, por exemplo, que você tem um buraco vazio em partes da sua história. Você pensou em momentos de virada, mas não nas outras partes. Então você consegue corrigir isso antes de começar a escrever, simplesmente usando cartões. Outra boa ideia é você identificar seus cartões por cores. Dê uma cor para cada personagem, por exemplo. Então você poderá acompanhar melhor, no seu Quadro, o que acontece com cada um. Ou dê uma cor para a História A e outra para a História B. Ou ainda identificar arcos menores dentro da história principal. Tudo isso facilita a visualização no final.
Agora, sobre a quantidade de cartões. São 40, lembra? Mais ou menos 10 para cada linha do seu Quadro. E aí você vai ver que vai acontecer de você fazer um monte para a primeira linha do Quadro, ou na segunda, ou tanto faz. Às vezes a gente acha que tem um monte de coisas pra acontecer ali ou aqui e vai juntando cartões. Mas é aqui que precisa vir a humildade: juntar os cartões que de pra juntar, e remover aqueles que, na verdade, não fazem falta. E você vai acabar com mais ou menos 9 cartões. É o ideal para o Ato 1, a primeira linha.
Às vezes também vai rolar de você deixar os espaços em branco em algumas linhas. Há outras dificuldades, como preencher o Ato 3. Aqui é importante lembrar que o Ato 3 é uma junção dos dois primeiros, então você sempre pode voltar lá, ver o que sabemos sobre seus personagens, como eles evoluíram, e usar isso para mostrar essa evolução no final. O importante é distribuir seus cartões da melhor forma possível.
No final, cada uma das suas linhas tem que ter pelo menos 9 cartões. E assim você acaba com mais 4 cartões para colocar onde quiser. Mas nunca menos que 9, OK? Se não, os Atos da sua história parecerão vazios.
Fazer o quadro é ótimo. É realmente muito bom. Mas você precisa ficar de olho para não transformar esta etapa do seu livro em procrastinação. Estruturar seu livro antes de começar a escrever é extremamente importante, e usando o Quadro, você conhecerá todos os passos da sua história antes de escrever, e não terá dificuldades em preencher suas páginas em seguida.
Mas o Quadro não é o seu livro, ele é apenas um passo para a sua escrita. Não perca tempo demais, e lembre que você pode sempre voltar para ele, se achar necessário.
A principal ideia do quadro é forçar você a imaginar todas as etapas da sua história, todos os conflitos, as mudanças.