Caminhando para a reta final, neste vídeo eu falo sobre algumas leis importantes que você não deve burlar para garantir que a sua história funcionará – por isso o nome de leis da física narrativa! Assista e conheça 8 importantes regras que toda história deve seguir!
Você pode pensar “fala sério que existem leis para narrativa”, e eu vou dizer: há sim. Algumas. Se você parar para ler O Herói das Mil Faces, do Joseph Campbell, você vai ver que grandes histórias, escritas nos últimos milhares de anos, seguem as mesmas regras. Não tem jeito. Até se você for lá em Jesus Cristo, a história dele também segue essas regras. A vida é assim. E se você quiser escrever uma história que todo mundo vai gostar, vai precisar seguir essas regras também.
Vamos para as leis?
Em O Senhor dos Anéis, vemos desde o começo que Frodo é um bom garoto, cuida do tio e deseja o melhor pra ele. Pronto. Está feito. Se o seu personagem principal é um assassino (Dexter?), você pode fazê-lo engraçado. Quem nunca riu de como o Dexter se safa das coisas? Nesse caso, você precisa ter certeza de que o vilão, o antagonista, é ainda pior que o seu personagem principal. Você precisa se importar com o seu personagem. E torcer por ele.
Essa é principalmente para filmes, mas ainda vale para literatura. A ideia é: há cenas em que você precisa passar muitas informações, as vezes difíceis, sobre o que está acontecendo na sua história. E para não cansar o seu leitor ou público, essas informações devem ser passadas com um fundo capaz de distraí-los.
Já viu como em filmes de hospital, as informações mais absurdas sobre doenças, cirurgias etc são dadas com todo mundo correndo pelos corredores? Ou pensa mesmo em Harry Potter: as tramas mais complicadas são discutidas na biblioteca, com coisas se mexendo, professores passando por perto tentando encontra-los e tudo mais?
Isso porque ninguém gosta de receber informação demais de uma vez, nem informações complicadas demais. E uma boa dica é distrair o seu leitor/espectador com outras coisas. No meu livro, meus personagens estão andando, vendo a cidade, enquanto discutem as partes mais complicadas. Entre uma fala e outra, há uma descrição da rua, a vista de um prédio histórico, etc.
Pode ser uma coisa engraçada, pode ser uma coisa diferente, não importa. Mas tem que ser algo que vai distrair o seu leitor dessa parte maçante.
Magia aqui são coisas “diferentes”, não necessariamente magia. Por exemplo, é complicado colocar, em uma mesma história, alienígenas chegando em seus discos voadores, e vampiros atacando pessoas na cidade. São dois tipos de “magia” que não batem. Você acaba pedindo demais dos seus leitores.
Apesar de estar na moda histórias que juntam vários tipos de “magia” (um mundo onde todas as criaturas mágicas existem), um bom exemplo é Crepúsculo, que fez as coisas direito. Um livro para falar sobre vampiros. Outro livro para falar sobre lobisomens.
Sua “magia”, por outro lado, pode ser um mundo mágico inteiro, desde que ele faça sentido para o seu leitor. Assim, O Senhor dos Anéis criou um mundo infalível. Tudo ali faz sentido. Mas Instrumentos Mortais, para mim, não faz sentido. Para outras pessoas faz, e a série fez algum sucesso, não é? Os livros são melhor estruturados, mas o filme não deu certo, por exemplo, e a série do Netflix é muito ruim.
A ideia aqui é: muitas histórias tem um início muito longo, com muita informação, muitas cenas/partes e só chega no catalisador, que vai fazer a história andar, láááá na frente, capítulos e capítulos lá pra frente.
Ora, há um limite para o que seu público sobre aguentar esses preparativos para a história realmente começar. Ninguém aguenta uma história que é só apresentação das pessoas. Metade de um livro só falando características do seu personagem.
Ao gastar muito tempo criando um background para a sua história, você tira tempo da sua própria história, percebe? Se sua história precisa de background demais, alguma coisa está meio errada. A não ser que seu livro seja gigante. Então, proporcionalmente, você terá mais espaço para isso.
Às vezes você tem uma boa ideia. Como “Que tal um mundo com vampiros?” E parece ótimo. Mas aí vem: se tem vampiros, por que não lobisomens? E fadas? E alienígenas?
Você quer aproveitar que teve uma boa ideia e aumenta-la, mas todos acabamos exagerando. Acontece. Mas quando você estiver lá, desenvolvendo sua história, e você perceber que está querendo tirar leite de pedra (tirar proveito DEMAIS da sua boa ideia), é a hora de parar, se afastar e ver o todo.
Não deixe sua história desenrolar muito antes de o vilão fazer alguma coisa. Já viu aqueles filmes em que o vulcão está para explodir e nunca explode? Pois é. De repente a história seria melhor se ele explodisse e seus personagens tivessem que lidar com isso.
Melhor que fazer seus personagens falarem e falarem e falarem sobre o “vilão da história”, é coloca-los de frente com o vilão. O perigo da sua história, tudo que está em jogo, deve ser presente e claro. Seu leitor precisa saber quais as consequências da ameaça da sua história.
O vilão normalmente não muda, mas o herói e seus amigos sim. Eles devem ter um arco, uma mudança que ocorre do começo, passando pelo meio e chegando no final da sua jornada. Assim, você passa a ideia de que a sua história é tão transformadora que é capaz de mudar a vida de todos os que estiveram ali. Lindo né?
Todos gostamos de histórias em que as pessoas aprendem alguma coisa e mudam para melhor, por exemplo. E normalmente, se sua história vale a pena ser contada, é porque ela foi importante para todas as pessoas envolvidas. Porque histórias são sobre mudança. Todos os livros que fazem você sorrir, chorar, se identificar, que fazem você querer ler de novo, fazem isso.
Muitas vezes, envolver todo o mundo, como a imprensa, em histórias grandes, acaba tirando o foco do que realmente importa na história, que são os personagens. Assim, mesmo que sua história tenha coisas grandes, como um alienígena entre nós, é importante que sua história seja sobre as pessoas próximas ao herói e como elas lidam com isso, e não sobre como a imprensa trata desse acontecimento, por exemplo. Por que, na verdade, no momento em que vemos que todos estão lidando com aquele “problema”, a história fica até menos desesperadora para os personagens principais, não é? E o que nós queremos mesmo são histórias individuais, únicas.
Você pode até transformar sua história na história de todo mundo, mas faça isso com cuidado. E sua história pode até ser sobre isso, sobre a própria imprensa, sobre problemas mundiais e como as pessoas lidam com isso ao redor do mundo. Mas se não for sobre isso, é melhor deixar o resto do mundo de fora e lidar com o herói e seus amigos.
Todos passamos por esses problemas. E nos vemos confrontados por essas leis. EU mesmo desafio algumas delas, mesmo que de longe. Mas para ter uma história concisa, coesa, com a qual o seu público vai se identificar, e que será lida com afinco e interesse, é importante prestar atenção a tudo isso.