Ao escrever seu livro, é importante saber que tipo de história você vai contar. Para ajudar nesse processo, apresento esta semana as 10 categorias básicas para toda e qualquer história contada neste nosso mundo! Isso mesmo! Ao conhecer essas categorias, você poderá definir em qual delas a sua história se encaixa e terá muito mais facilidade para estruturar o seu livro e começar a escrever suas páginas, já com uma boa noção de um ponto de partida e um final. Conheça!
Anos depois de J. R. R. Tolkien lançar seus livros de O Senhor dos Anéis, surgiram infinitas histórias no mesmo estilo. Nós vimos a mesma coisa acontecer quando saíram os filmes. A grande maioria desses, entretanto, não deu certo. Por que?
É verdade que as pessoas gostam de ler ou ver uma história que elas já conhecem, mas elas não querem ver a mesma história. Eu amo O Senhor dos Anéis, mas não me interessa ler outros livros exatamente iguais, com elfos, anões, humanos, um Senhor das Sombras, etc. Isso eu já li. É por isso que esse tipo de fantasia hoje é cliché. Mas elfos e anões não são tudo em uma história de fantasia. E o ideal aqui, para fugir dos clichês, é realmente entender a estrutura das grandes histórias, e usar a mesma estrutura para montar explicar a sua.
Um bom começo é ler uma série de livros na mesma categoria da sua história, assim como alguns filmes também, e estudar o que funciona em cada um e o que não funciona. Mas “elfos e anões” não são uma categoria. Então eu vou apresentar para você agora, as 10 categorias de histórias do Blake Snyder e você vai ver que qualquer história que você conheça pode se encaixar em uma delas. E depois você vai definir em qual delas a sua história se encaixa.
Tubarão, Alien, O Exorcista.
A base dessa categoria é muito simples. Você tem um monstro em algum lugar confinado. E quando pessoas chegam naquele lugar, elas precisam lutar desesperadamente para matar o monstro e sobreviver. Qualquer pessoa consegue se identificar com essas histórias. Elas são simples e diretas, e todo mundo entende. Por isso todos os filmes de terror são iguais. E por isso que, se você vai escrever sobre isso, você precisa fugir do cliché, saber bem como escrever a mesma coisa, só que diferente, para atrair seu público e ser bem-sucedido. Mas é importante que seu monstro seja crível (aterrorizante de verdade) e que não haja escapatória (É lutar ou morrer. Não dá pra virar as costas e ir embora).
Star Wars, O Mago de Oz.
Normalmente é uma história de pessoas viagem, em que o herói vai atrás de uma cosia e acaba encontrando outra: ele mesmo. Profundo. O que move a história, de fato, são os encontros pelo caminho, que se conectam, tem significado e levam ao crescimento interno. Assim o personagem muda. A história principal muda para uma mais pessoal de descobertas, e as reviravoltas não são mais tão importantes quanto o significado dos aprendizados.
O Todo Poderoso.
Esse é simples: O personagem deseja algo, como “Queria ter todo o dinheiro do mundo!” ou então, “Eu queria ser Deus!”. Funciona porque todos desejamos essas coisas, de alguma forma. Quem nunca quis saber como a vida seria se você pudesse realizar seus desejos mais doidos? Pode vir em outros formatos, como O Máscara ou até Herbie: Se Meu Fusca Falasse. E não precisa envolver magia, pode ser só sorte. E também pode ter um efeito negativo (como O Grande Mentiroso). As regras são: se for um desejo realizado, o personagem tem que ser alguém que você deseja que se dê bem na vida (imagina Cinderela?). Mas ninguém gosta de ver alguém se dar bem por muito tempo, então em algum momento o personagem precisa aprender uma lição (“dinheiro não é tudo”, por exemplo). O público precisa de uma boa moral. Se for o contrário do desejo, ele precisa sofrer um pouco, mas com um final de redenção, a pessoa precisa se tornar uma boa pessoa.
Duro de Matar, A Lista de Schindler.
Basicamente é “um cara normal se encontra em situações extraordinárias”. Também é muito popular. Nós, pessoas normais, nos identificamos imediatamente. E tudo o que você precisa é de: um cara e um problema, que ele precisa enfrentar buscando o que há de melhor nele mesmo. E assim, quanto mais normal o cara, mais complicado será o problema. Ou pior será o vilão. E assim, o herói será maior ainda no final, sempre usando sua individualidade para dar a volta por cima e triunfar diante do improvável.
Beije-me em Barcelona.
Histórias que mostram transições na vida. Funciona porque todos passamos por essas transições, de uma forma ou de outra. Histórias assim são histórias de dor, sofrimento, que surgem de forças exteriores e incontroláveis, como a vida. O “monstro” da história pode ser puberdade, crise da meia idade, separação e luto. E a pessoa só vai sair dessa situação passando por ela. E é aos poucos que o personagem irá identificar esse “monstro” e entrar em conflitos ainda maiores (como lidar com os problemas da adolescência por exemplo?). Para pensar em livros, veja O Apanhador no Campo de Centeio, ou, mais moderno, Divergente.
Rain Man, Debi e Lóide.
Para ser mais chique, Dom Quixote. Histórias assim transferem importantes diálogos internos para o lado exterior, e o personagem principal pode verbalizar seus pensamentos e ideias discutindo com um amigo. Então, temos dois personagens: um que passará pelas grandes mudanças e outro que funciona como catalisador, que entra na vida do outro, traz mudanças e vai embora. Pensa em ET, o extraterrestre. Funciona porque todo mundo tem uma história “eu e meu amigo”.
Sobre Meninos e Lobos (Mystic River).
Muitas vezes uma história policial, o Por Que fala sobre o mal que vive no coração de todos os homens. E aí não importa “quem”, mas sim o “por que”, o motivo. Esta história não é sobre o herói passando por mudanças, mas sobre seu público descobrindo algo sobre a natureza humana que não achava possível antes do “crime” acontecer. É assim que o público mesmo faz a investigação, acompanhando o herói, e fica chocado com suas descobertas. Muitas vezes essas investigações sobre o lado negro da humanidade são uma investigação sobre nós mesmos “será que nós somos maus assim mesmo?”, e por isso nos identificamos de alguma forma.
Forrest Gump, Chaplin.
A história de um Bobo que, no final, se mostra mais inteligente que nós, que por ser bobo, passa por despercebido e assim, no final, tem a chance de brilhar. Pensa também em todos os filmes do Adam Sandler, Bem Stiller etc. A ideia, afinal, é colocar o Bobo contra alguém melhor, mais forte, que representa os “vencedores da sociedade”, ou algo assim, e fazê-lo triunfar, nos dando ter esperança e a pensar de forma mais leve sobre as coisas que costumamos levar tão a sério na vida. Então é assim: você precisa de um Bobo, alguém desprezado, despreparado, e ninguém acredita nele; e de uma estrutura ou instituição que ele irá atacar. Normalmente o Bobo tem alguém conhecido, do lado de “dentro”, que não consegue acreditar que ele se dará bem (O Tenente Dan de Forrest Gump). Nós nos reconhecemos nessa história porque, de novo, sabemos como é ser um “outsider”, a pessoa de fora, de alguma forma. E nos sentimos muito satisfeitos quando os vemos triunfar no final.
Beleza Americana, O Poderoso Chefão.
É uma história de um grupo de pessoas que se une para lidar com os altos e baixos da vida. Famílias, amigos, times, etc. Nos reconhecemos nessas histórias porque sabemos como é pertencer a um grupo, e a colocar o grupo acima de si mesmo. A dinâmica desses grupos muitas vezes é destrutiva: colocar a família à frente em Poderoso Chefão, por exemplo, leva a muitos problemas, assim como colocar regras sociais acima de tudo, em Beleza Americana, leva a um final assustador. Eles abrem mão de si mesmos para pertencer a algo. Muitas vezes é contada do ponto de vista de um novato. Ele é como nós, aprendendo naquele momento sobre as dinâmicas do grupo, acompanhando alguém mais experiente. Normalmente, as histórias vão até um ponto em que o personagem principal pensa “quem é mais doido, eu ou esses caras?”
Homem de Ferro, Batman, Gladiador e Uma Mente Brilhante.
Essa categoria é o oposto do Cara com um Problema, pois ela coloca uma pessoa extraordinária em uma situação comum. A ideia é emprestar qualidades humanas a esses seres e ver como eles lidam com essas situações. Nos dois exemplos, Russel Crowe é um cara foda que é rebaixado ao mundo de pessoas normais. E o problema deles é a mente pequena das pessoas que estão ao seu redor. É o mesmo para os X-Men. Então o Super-herói precisa lidar com aqueles que tem inveja dele. E todos conseguimos nos relacionar com esse tipo de história também. O Batman é bonito, rico e inteligente, mas nós nos identificamos quando ele abdica de seu conforto para ajudar os necessitados.
Olhando para essas categorias com algum cuidado, você vai ver que muitos livros e filmes se encaixam em cada uma delas, e que eles são todos iguais… só que diferentes. Cada uma dessas categorias é um tipo de contação de história que funciona. Está provado. Se você tentar mudar, talvez você não seja bem-sucedido. Mas talvez sim, quem sabe! O ponto é que elas funcionam. E por um motivo. Isso não quer dizer que você terá sempre as mesmas histórias, porque elas são diferentes, no final. Velozes e Furiosos, por exemplo, tem exatamente a mesma estrutura de Caçadores de Emoção (lembra desse?), mas um é sobre carros e o outro sobre surfe.
Nunca ache que você está se rendendo, você está usando uma estrutura comprovada. Nem que você está roubando, porque são todos assim mesmo. O importante é fugir dos clichés e criar uma reviravolta interessante, que prenderá o seu leitor e o levará até o final.
Seu dever de casa, agora, é descobrir em qual dessas categorias o seu livro se encaixa. O meu, por exemplo, é um Rito de Passagem. Meu personagem se pega apaixonado por sua ex-namorada. Ao perceber isso, ele percebe também que precisa amadurecer e superar os problemas de ser um jovem solitário para poder tomar a decisão de sua vida.
Boa sorte!
3 Comments
[…] que você sabe sobre o que é a sua história, o próximo passo é descobrir sobre “quem” é a sua […]
Deve haver apenas uma categoria?
Olá, Luiza!
É possível que sua história pareça ter mais de uma categoria, e tudo bem, mas você precisa escolher 1 para ser a sua principal! Isso vai te ajudar a focar a construção de uma estrutura para a história completa.
É importante ter foco em 1 coisa só, para sua história não ficar muito solta e se perder.