Artigo acadêmico derivado da tese de doutorado da pesquisadora Flavia Ribeiro Botechia.
Trecho:
O estudo arqueológico coordenado, nas décadas de 1960 e 1970, dentro do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), pelo Arqueólogo e Professor Celso Perota (UFES) identificou vestígios de primitivas aldeias indígenas em Vitória. Dentre as áreas que guardam evidências materiais da presença da cultura pataxó na ilha destacam-se algumas: região do bairro Fradinhos (sítio arqueológico); proximidades do Quartel da Polícia Militar (nas imediações da Avenida Maruípe); Cemitério de Maruípe; e Morro do Macaco. Assim sendo, os fragmentos recolhidos pelos arqueólogos em suas escavações apontam para a existência de aldeias não só na colina central, mas ao longo do Eixo em estudo.
Pois se haviam os pontos de assentamento supostamente deveriam existir as linhas (caminhos) que interligavam estes pontos. Como sinalizam alguns autores como Sergio Buarque de Holanda (1994) e Gloria Kok (2009), durante o período colonial e imperial no Brasil, havia os caminhos de terra e os caminhos de mar. E alguns destes caminhos podem ter sido em parte aproveitados das trilhas estreitas (onde se andava em fila) utilizadas pelos povos indígenas, que para se deslocar por terra seguiam ora as linhas de talvegue, ora as linhas de cumeada a depender das condições tipo-mórficas do território. No caso especifico da região em estudo além da questão físico-territorial, corrobora a importância das linhas de talvegue para deslocamentos, a prática comum dos índios de caminhar em paralelo aos rios (Holanda, 1994; Kok, 2009; Perota, 1979).
Então as ‘rudimentares veredas’ (Kok, 2009: 93-94) eram utilizadas pelas tribos para caminhar pelo território e, uma vez abertas em mata fechada, algumas parecem ter persistido formalmente:
“A transmissão dessa sabedoria indígena forneceu importantes informações sobre o território americano, desde os caminhos percorridos pelos rios até os morros e suas características. O conhecimento da topografia e geografia brasileiras permitiu aos colonos definir para os portugueses o que Claude Lévi-Strauss chama de cartografia indígena: ‘um acervo de informações espaciais, construído pela memória e enraizado, principalmente, nos sentidos” (Reis, 2011: 41).
REIS, F. P. (2011). A serra das Esmeraldas: cartografia, imaginário e conflitos territoriais na Capitania do Espírito Santo (século XVII). Mestrado em História Social. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.