Essa boa relação ultrapassa os limites do lar. Dia desses, Julia publicou em seu perfil no Instagram um vídeo em que ela e o pai interpretavam a seresta “A Deusa da Minha Rua”, de Jorge Faraj e Newton Teixeira, música que seria apresentada num show que os dois fariam juntos e que se repetirá no próximo dia 23, no Jalapeño Cocina Y Cultura, em Jardim da Penha, na Capital.
Recordações
A mesma Jardim da Penha tem um lugar especial na memória afetiva do músico Amaro Lima, que guarda recordações da residência em que vivia com a família no início dos anos 1980.
Filho do radialista Marcos Lima, falecido em 2011, Amaro conta que foi na casa, com o pai, que ele aprendeu que a arte – principalmente a música – pode ser um combustível para impulsionar o nosso dia a dia. “A gente sempre acordava com música”, relembra o irmão do também músico Alexandre Lima. “Num dia era Luiz Gonzaga, no outro Jimmi Hendrix, Caetano…”, completa.
“Mas o principal ensinamento do meu pai foi a cultura, foi de saber que na vida é mais importante viver coisas, e não ter coisas. Com a cultura você pode viver muita coisa legal, independente de ter dinheiro ou não”, compartilha.
Longe da música, mas mergulhado na cultura, Fabio Reis adentrou o universo das artes com o pai, o jornalista Jonas Reis. “Ele sempre gostou de ler. Lá em casa sempre teve biblioteca e a gente, eu e meu irmão, sempre teve, desde cedo, o costume de ler”, recorda o historiador e autor do romance recém-publicado “Beije-me em Barcelona”.
Tal pai, tal filho

Além desse incentivo literário, um acontecimento específico foi importante para que Fabio estreasse na literatura: a estreia literária do seu próprio pai. “Foi um incentivo muito grande quando ele decidiu publicar o seu livro”, conta. “As coisas ficaram mais próximas, porque, para mim, publicar um romance era algo muito distante”, diz.
Mais do que esse estímulo indireto, Fabio não consegue desvincular uma lição primordial que seu pai – hoje autor de dois livros e prestes lançar o terceiro – deixou em sua vida. “A busca pelo conhecimento. Ele sempre incentivou a gente ir atrás das coisas, ler sobre os assuntos e saber como as coisas funcionam”, explica.
Dois artistas, duas histórias: Sara Lima e Israel Costa
“O meu pai acabou fazendo uma ponte para mim, uma ponte para eu entrar no mundo artístico”, reconhece a dançarina e atriz Sara Lima sobre a influência do pai, o dançarino Walter Lima. “É certo que meu pai me influenciou muito”, afirma a artista de 29 anos. “Os amigos que ele tinha na sua época, hoje em dia também são meus amigos”, orgulha-se.
O pai de Sara é ninguém mais, ninguém menos que um dos nomes por trás da surgimento do Grupo NegraÔ – primeiro grupo profissional de Dança Afro Brasileira do Estado, fundado há quase 26 anos.
Antes disso, porém, ele já era pai de Sara e professor da Escola Técnica Municipal do Teatro, Dança e Música (Fafi). “Desde pequena sempre passei momentos com ele. Eu o acompanhava nas aulas, fiz teatro… Inclusive, quando me interessei por dança, fui aluna de pessoas que foram alunos dele”, relembra Sara sobre o pai, hoje em dia envolvido numa banda de Congo de Roda D’água, em Cariacica.
O aprender a dançar de Sara com o pai deu-se apenas na adolescência dela. “Ele me ensinou a dança de salão”, conta. A dança, porém, não foi o principal ensinamento dele. “O que ele me passou foi a questão artística: de gostar de arte, de música e essa coisa da expressão corporal”, diz, para completar em seguida.
“Mas a influência não vai apenas no gosto para a arte e a música”, continua Sara. “Carrego também a educação de ser uma pessoa correta. Ele é um modelo de pessoa: fazer o bem aos outros, gostar de dançar… Eu amo dançar e isso é uma coisa que ele passou: o amor pela dança, profissionalmente ou não”, destaca ela, hoje parte a Cia. Samba Show, produzido e coreografado por ex-alunos do NegraÔ.
Ausência
Recentemente o cineasta Israel Costa estreou a sua primeira produção na telona: “Distorção”, um curta-metragem de ficção que transita entre os gêneros da ação e do suspense.
Embora tenha perdido o pai quando tinha apenas sete anos de idade, Israel conta que ele acabou, sim, sendo influente para a carreira que ele decidiu trilhar hoje em dia. “No meu caso, meu pai me marcou tanto pela presença quanto pela ausência”, reconhece. “Com isso, cada pequena lembrança ganhou um peso enorme em minha maneira de ver o mundo. Durante muito tempo uma das principais influências dele foi no gosto musical”, diz ele, citando artistas como Chico Buarque e Belchior.
Contudo, a influência não foi apenas musical ou tampouco de maneira direta, fruto do contato entre os dois. “Aos vinte e poucos anos, quando visitei um tio no Rio de Janeiro, que foi amigo de juventude do meu pai, soube da sua predileção por imagens”, diz. “Minha surpresa foi gigante, porque esse era um lado dele que não conhecia”, compartilha Israel.
A coincidência de interesses foi positiva para o cineasta, que, à época, começou a esboçar seus primeiros testes de Computação Gráfica – processo que desaguou em “Distorção”. “De alguma forma, foi como se eu tivesse a aprovação implícita do meu pai. O que pra mim foi muito importante”, conclui.