Com canais de resenhas literárias em vídeo, os booktubers ganham fama, projeção e, de quebra, incentivam a leitura entre seus jovens seguidores
Há cerca de três anos o cachoeirense Renan Nunes, 24 anos, compartilha suas impressões sobre os livros que leu e recomenda leituras aos seguidores do seu canal no YouTube (/renansbooks). “Já tinha visto algumas pessoas fazendo canais assim e resolvi criar o meu porque lia muito”, relembra o booktuber, termo designado àqueles usuários que falam sobre literatura em seus respectivos espaços virtuais.
Fã de livros de fantasia e aventura, Renan conta que a idade das pessoas que acompanham seus vídeos varia dos 13 aos 35 anos. Para ele, o seu canal – e de outros booktubers – incentiva as pessoas se embrenharem no universo literário.
“Tem muita gente que comenta nos vídeos ou que me manda mensagem falando que foi atrás ou comprou as obras que indiquei”, conta ele, que num de seus últimos vídeos recomendou a ficção científica “Interdimensional”, de F.P.Trotta.
O sucesso dessa galera não é exagero. Um dos canais de maior visibilidade do país é o “Tiny Little Things”. Com mais de 250 mil seguidores, o espaço, capitaneado pela professora Tatiana Feltrin, aborda obras que vão de “Carta ao Pai”, de Franz Kafka, à trilogia “Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien. Ou seja, bem diverso.
Aqui no Estado, o nosso principal canal é o “Nuvem Literária” (/nuvemliteraria). O espaço tem mais de 84 mil inscritos e é comandado pela Juliana Cirqueira. Juliana é capixaba e formada em Letras-Inglês, além de pós-graduada em Tradução em Inglês.
Outras iniciativas
Outra opção tocada por capixabas é o site “Entrelinhas & Afins”. Formado pela dupla Ronald Onhas e Nathalia Maciel, eles mantêm o projeto em duas frentes: num blog e em um perfil no Instagram, onde são postados stories com resenhas de livros de editoras parceiras, como a Cousa e a Cachoeiro Cult.
Para Ronald, um dos grandes trunfos dos booktubers é a linguagem dinâmica. E isso pode, em certas proporções, até ajudar no aprendizado de estudantes que buscam informações sobre livros adotados em provas de vestibulares ou no Enem.
“A nossa linguagem é mais fácil de degustar do que uma aula expositiva em sala. Acredito que mesmo que o booktuber fale sobre um clássico como ‘Senhora’ ou ‘O Guarani’, a linguagem que ele imprime facilita o aprendizado”, opina Ronald.
Por outro lado, o escritor e professor de História Fábio Reis (/fabiopaivareis) viu no YouTube uma maneira de estar mais próximo das leituras de seus alunos. “O canal já existia, mas comecei a falar sobre literatura há mais ou menos um ano”, conta o autor do livro “Beije-me em Barcelona”.
No caso, o contato de Fábio com esses estudantes influencia nos vídeos que ele publica em seu canal. “Como sou professor e escrevo literatura para jovens adultos, normalmente pego dicas dos meus alunos para saber o que essa faixa etária está lendo. Aí leio e deixo minha opinião”, explica ele, citando como uma dessas indicações, o livro “Perdida”, da escritora Carina Rissi. “Eles são influenciados e eu também vou me influenciando por eles”, conclui Fabio.