J. B. Harley foi um dos historiadores da cartografia mais bem sucedidos do século XX.
Mesmo antes de sua morte, carregava já uma aura mantida por inspirados seguidores de sua linha de pensamento. Não há como negar, de fato, sua contribuição para o desenvolvimento desta ciência. Ele foi o principal defensor da ideia de que mapas são e devem ser lidos como textos. Mesmo sem palavras, seu conteúdo passa informações tão claras que, assim como qualquer documento escrito, um mapa pode ser lido e analisado e criticado interna e externamente.
Em seu artigo Text and Context, publicado também na coleção de estudos The New Nature of Maps (A Nova Natureza dos Mapas, em português — uma homenagem póstuma ao investigador), Harley lança a importante frase, que simboliza algumas de suas principais ideias:
“Representation is never neutral, and science is still a humanly constructed reality.“ (A representação nunca é neutra, e a ciência é ainda uma realidade construída humanamente)
O que o autor queria dizer é que mapas nunca são inocentes, desprovidos de interesses. Há aqueles que discutem a facilidade com que Harley utiliza termos absolutos como nunca e sempre, mas é difícil discordar da afirmação, principalmente em relação à cartografia histórica, sempre tão cheia de vontades. Na conclusão, ele nos lembra que a ciência é feita por nós, e por isso mesmo falha, ou (em uma visão mais positiva) em construção. Isto afeta não só os mapas, alvos de uma ciência cartográfica a pleno vapor na Europa moderna, mas também a nós, historiadores, a estudar hoje esses mesmos mapas.
A representação nunca é neutra.